Poema - Seja Agora.

Há-de passar
Depois
A nuvem
Há-de passar
Depois
De tantos passos
Há-de passar
A correr
Depois
A vida há-de
De se
Torcer

Depois
O céu
Há-de aparecer
Depois
Podes esperar
Pois
A nuvem
Há-de voltar.

André Marquês.

Poema - Noção de Ti.

Sou mestre de ninguém
Sem a noção
De ser pessoa de alguém
Que em mim tenha mão

Sou pessoa de ninguém
Cheia de pressa
Com olhar de aquém
Que na volta regressa

Sou quem gosta de ti
Sem ter a noção de si
Das vezes que queres e não tens
De quantas vezes perdes alguém.

André Marquês.

Poema - Se Me.

Há versos
meios enlaçados
de uma tal
guitarra
que desafina
quando está
calada
e quando chora 
os seus amores mal
amados

Há uma parede
de desejo
mal tocada que
quer ser uma pessoa 
estagiária 
de um amor 
que não 
voa

Há dias que 
não são os dias
para se ser feliz
e não há
mais insónias
que não deixem 
a nódoa
de uma cicatriz.

André Marquês.

Carta - Querido tempo.

Querido tempo,

No primeiro instante em que dei o meu primeiro laço de amizade, a maior viagem do mundo começou para sempre.

Não faço ideia em que parte do mundo estás. Mas, sei que fazes falta e eu preciso de tempo para voltar para casa, tempo para estar contigo, tempo para aprender a despedir-me.
Sei que o tempo não acaba seja em que momento for, apenas deixa de ser o tempo certo para continuar com aquilo que um dia foi. A pior consequência de sentir saudade é saber que, ela perdeu o direito de saber há muito tempo para onde tu foste e nós apaixonamos-nos muito pelo tempo que partilhamos, mas ainda mais pelo tempo no qual estamos separados.
Não importa que esteja perto ou longe de ti, esteja em que parte do mundo estiver, não importa porque o céu será sempre o mesmo e a lua nunca será maior que o teu polegar. Tenho a certeza que nunca seremos maiores do que o tempo, mas conseguimos ser muito mais felizes no mais curto espaço dele. Agora, vivemos um tempo separados.
Fiz-te uma promessa. E só quero mais uma neste tempo que vamos ficar separados, sê feliz e conta-me tudo. Guarda tudo, sorri para quem não conheces, não te preocupes em voltar. Estás em casa. Não importa que haja saudade, se houve, é sinal que valeu a pena e viveste isso tudo no tempo mais certo antes que ele terminasse. Importa dizer agora que, tenho saudades? Tenho. Assim, ao recordares todos esses momentos, estaremos sempre juntos mesmo estando separados. 
O tempo parece sempre que nunca é suficiente. E este é o momento em que fazes falta e eu preciso de ti para voltar para casa, para estar contigo, para aprender a despedir-me. Prometo-te contar tudo um dia, só tens de ser paciente. Antes de ir, pergunto-me sempre como estás por aí.

A saudade faz-nos escrever, por isso, 
vemos-nos em breve.

Poema - Escuro D'outrora.

Nestas ruas 
outrora familiares,
sinto sombras
por todo o
lado.

As paredes
transpiram a cor
dos fantasmas
outrora do
passado.

Estou ao
teu lado no
escuro.

Julgam eles
que prendem as
palavras no
futuro.

Ao que as sombras
murmuram e
os fantasmas nas 
paredes sussurram,
nós fantasmas aqui
estamos, por ti
nas sombras...
ansiamos.


André Marquês.

Poema - Quem.

Quem nunca acordou
com o silêncio
mesmo quando tinha
fechado as
janelas?

Quem nunca sonhou
acordado de dia
mesmo quando as
estrelas tinham fugido
por elas?

Quem nunca fechou
aquela porta
mesmo quando tinha a
vontade de voltar
a entrar?

Quem nunca disse
que nunca 
mesmo quando sabe que
esse vai falhar?

Quem?
Quem?
Quem?
Sabe fugir,
também sabe regressar.


André Marquês.

Muda Revolução.

Oiço os homens 
a falarem
dos monstros 
vejo os mesmos homens 
falarem de si próprios,
oiço conversas grandiosas
em mesas pequenas
onde a sede existe e
os copos estão vazios.

Sinto o tempo a
avançar e o
passado a ser desenterrado,
sonhamos sempre com uma casa
nova e o sentimento
de mudança já nasceu cansado.

Tenho uma antiga voz
que me diz, estás-me matando
por te ver assim, mas
quando comecei a 
revolução já sabia
que a morte seria o
meu jardim.


André Marquês.